terça-feira, 17 de agosto de 2010

MYSTIC TRIBE

Psicodelia de raiz: Mystic Tribe se mantem na cena

Gabriela Loschi

O ano era 1995. O local, uma cidadezinha do interior paulista há quase 200 quilometros da capital: São Pedro. Por ali residiam uns estudantesque, ao entrarem em contato pela primeira vez com a Cascata Dorigon, se apaixonaram. A queda da cachoeira que ficaria famosa no mundo da psicodelia, chamou atenção também pelo seu espaço. Perfeito para uma festa delirante. Dito e feito. Ali foi organizada a primeira Mystic Tribe. E a segunda... E então, algumas coisas aconteceram.

Hoje nas mãos de três DJs, o Ricardo Janczur (DJ Janczur), Rodrigo Boteon (DJ Boteon) e Guilherme Bantel (DJ Lotus), essa festa nunca mais parou de acontecer. Desafiando ao mundo pop psicodélico, a Mystic sobrevive à base de muita essência e trance underground. Como eles conseguem? Aí que tá. Leia essa entrevista concedida pelos três atuais organizadores, mergulhe por suas entranhas, em como esses caras enxergam a cena, e, saiba mais sobre o impressionante festival de 5 anos desta festa tão querida.


PSYTE: A Mystic Tribe começou na Cascata Dorigon, em São Pedro. Como foi o início deste sonho?

MYSTIC: Tudo começou com o Gabriel Berravueno, Natan Volpine, Diego Galetti e mais alguns amigos que estudavam hotelaria em São Pedro. Em 2005 eles foram convidados a conhecer a Cascata e quando chegaram lá, claro, ficaram com vontade de fazer uma festa no lugar. Dessa reunião de amigos começou a idéia. Inclusive o nome “Mystic Tribe” veio como sugestão do Daniel Bertini, hoje produtor do live Proagressivo. Depois da primeira festa, veio a vontade de dar continuidade ao projeto e aqui estamos nós!


PSYTE: Qual era o propósito?

MYSTIC: No começo todos eram muito jovens, tanto que das pessoas que faziam parte da organização, apenas o Gabriel continua na sociedade. A festa foi ganhando propósito com o tempo. No início era pura e simplesmente festejar, mas quando o lugar foi escolhido, um caminho de psicodelia já começava a ser traçado.

PSYTE: No segundo ano ela começou a ser organizada na cidade de Campinas, com o nome de Mystic. O que realmente aconteceu?

MYSTIC: Apos a saída dos outros sócios resolvemos seguir apenas com o nome Mystic, que era também como as pessoas chamavam a festa. Foi nesta edição, em 2006, que tomamos uma direção mais psicodélica, em uma época em que a cena precisava de renovação.

PSYTE: Algumas pessoas ainda têm dúvida: Mystic Tribe e Mystic são as mesmas festas?

MYSTIC: Sim. Vale a pena dar uma conferida na história da festa no site também.


PSYTE: De quem foi a idéia de fazer os 4 anos da festa novamente na cascata Dorigon, e como Mystic Tribe novamente?

MYSTIC: Foi uma soma de fatores favoráveis. Procuramos o dono da fazenda, todos os sócios se empolgaram, o público adorou e pudemos criar nossa floresta alienígena na Cascata.

PSYTE Como vocês avaliam os 5 anos de vida da festa?

MYSTIC: Um caminho de evolução. No começo tudo era novo, éramos também imaturos. Aprendemos muito e ninguém se arrepende de todo esse trabalho. Passo a passo a festa foi crescendo, e também ela foi amadurecendo - o nível de produção, os artistas que chamávamos, a estrutura que oferecíamos. Cinco anos depois a Mystic Tribe ja é um pequeno festival que começa na sexta-feira e termina no domingo. E ano que vem queremos fazer um de 4 dias.

PSYTE: Pontue um ponto alto e um ponto baixo.

MYSTIC: O ponto alto foi a festa do ano passado. O ponto baixo foi em 2007, quando o trance estava passando por uma época de desencontros, e a Mystic perdeu um pouco seu foco psicodélico. No entanto esse foi o motivo principal para o resgate às origens em 2008, quando a festa se juntou com a 4iDeas para fazer a festa com Kindzadza.

PSYTE: Essa é uma festa que vai na contra mão das festas comerciais de full on espalhadas pelo Brasil. Como vocês avaliam a cena Psytrance, de uns tempos para cá?

MYSTIC: O full on ganhou uma conotação muito comercial com o tempo, mas existem muitos artistas que nunca produziram música para criança. Na mystic full on também é levado a sério e vemos com tristeza a conotação comercial que o full on ganhou hoje em dia em festas maiores. A comercialização da cena psytrance já vem de anos. Mas nem todo mundo gosta das festas padronizadas e comerciais de hoje em dia, que tocam música mais facilmente digeridas. De 2007 para cá houve um renascimento da cena psicodélica e com ela vieram outros estilos musicais, como o dark e a volta com força do progressive. A cena psicodélica hoje é relativamente pequena, porém bem estabelecida.

PSYTE: Quais são as maiores dificuldades de realizar uma festa fora do circuito comercial? E o que é necessário preservar, para que ela aconteça?

MYSTIC: A maior dificuldade de fazer uma festa fora do circuito comercial é adaptar o orçamento ao tamanho dos nossos sonhos. Mas o profissionalismo, quando se junta com amor, pode fazer as coisas darem certo.


PSYTE: Como surgiu a idéia de fazer um festival para comemorar os 5 anos da Mystic?

MYSTIC: A idéia surgiu porque no ano passado a festa foi mais longa, 30 horas.. e era mais longe de Sampa. Muita gente decidiu acampar e aproveitá-la por inteiro. O público mostrou que gosta de ficar, e inspirados neles decidimos fazer uma festa que tivesse duas noites. O público acabou posicionando a festa como festival, e a gente abraçou a idéia. Tudo acabou fluindo...achamos um lugar lindo, que comporta muito bem um evento de 3 dias...pudemos convidar a Progressive Jukebox para fazer a primeira noite... e em 48 horas de música poderemos mostrar bem o que entendemos por psychedelic trance.

PSYTE: Como foi a escolha do local? Por que não a Dorigon?

MYSTIC: Quando tivemos a idéia de fazer um festival achamos que precisavamos de um lugar maior, que oferecesse mais estrutura, mais atividades, mais conforto.. e na cascata não viamos mais como expandir esse nosso horizonte. Quando encontramos o local novo, pensamos muito onde fazer, na cascata ou la, e pensamos: "queremos que todos tenham muito o que fazer durante os 3 dias de festa" e na cascata seria dificil inovar, e isso é uma das premissas da Mystic Tribe, por isso optamos sair de lá.

É um grande passo para nós ir para um lugar com estrutura completa de camping, chuveiros quentes, banheiros de alvenaria. Um hotel com um restaurante enorme, que oferece toda estrutura para a nossa praça de alimentação, um complexo aquático com várias piscinas para o pessoal se divertir, espaço para as crianças, camping com sombra, cozinha comunitária e bastante verde na área da pista e do chill out. Tudo o que desenhamos para a festa de 5 anos, esse local novo nos ofereceu a possibilidade de realizar. Sem contar que ficou mais perto de São Paulo, o acesso é mais fácil para o público daqui. Acho que não vamos nem lembrar da cascata. E para os que tiverem muita saudade da cascata, na semana seguinte da Mystic vai rolar um after em Itu, em um sitio com cachoeira :)



PSYTE: A essência da festa é muita psicodelia, arte e cultura. O que significa a música e a arte para a equipe Mystic Tribe?


MYSTIC: É a maior forma de expressão do ser humano. É a mensagem do cosmos que passa por nós e as pessoas que chamamos de artistas tem o dom de expressar essa mensagem e levá-la para os outros seres humanos. A festa serve de canal para essa manifestação coletiva, e certamente cada um tem algo a acrescentar.

PSYTE: Como foi escolhido o line up para este festival? Passando pela primeira noite, que leva a assinatura da Progressive Jukebox, até os BPMs que podem ultrapassar os 150 no sábado...

MYSTIC: Psicodelia. É o que pensamos para escolher o line up. Artistas que respeitamos, e que representam no Brasil e no mundo a essência do que entendemos por psychedelic trance. Construimos o line com uma grande evolução de estilos. Na sexta à noite para aquecer os motores convidamos a Progressive Jukebox, que é um festão feito por amigos que sabem tudo de psicodelia low bpm para dar o nome à noite. Já vamos ter grandes atrações na noite de sexta, como o lives do Minimal Criminal, do ProAgressivo (primeira vez em SP), Max Grillo, cada um vindo de um lugar do país. Na manhã de sábado o full on toma o dancefloor e se estende até o fim do dia.. quando a psicodelia explode com o dark psychedelic até o amanhecer. O domingo chega com full on pela manhã, progressivo a tarde e um encerramento muito especial com o DJ Swarup.

PSYTE: Quem e o que é a grande promessa do festival?

MYSTIC: O público! A integração entre todas as manifestações artísticas que permeiam o universo da música eletronica é nossa principal aposta. No quesito musical, muita expectativa para o live old school do Atmos, a estréia do Circuit Breakers e do Labirinto em SP, a volta de Kindzadza e Kerosene Club ao Brasil, Symphonix, que dessa vez vem! Mas acreditamos que todos tem um papel essencial para guiar todos em 2 dias de música. O conjunto é o que faz a obra... por isso cheguem cedo!

PSYTE: Porque o tema budismo?

MYSTIC: O tema da decoração foi inspirado no Livro Tibetano dos Mortos. Em seus estudos sobre psicodelia durante os anos 60, Timothy Leary usou o mesmo livro para fazer um paralelo com o seu "A Experiência Psicodélica", onde ele compara a experiência psicodélica com a morte e o renascimento. Ao ler o livro, vimos que o paralelo traçado por Leary também poderia ser expresso no ambiente de uma festa. Então tentamos recriar aristicamente na pista principal o conceito de Dharma (ou "Lei Natural da Vida") e na pista downbeat o Samadhi (meditação completa, o controle total das funções da consciência). Em toda a festa vamos explorar também outros conceitos vindos do hinduísmo e xamanismo, por exemplo.


PSYTE: Vão acontecer muitas oficinas, com temas variados, de confecção de filtro dos sonhos até a religião Rastafari. As pessoas devem fazer inscrição antecipada? Haverá uma cota de vagas para aqueles que decidirem na hora?

MYSTIC: Não haverá inscrições antecipadas, todas as oficinas e workshops acontecem em um clima interativo e livre, funciona mais como um ambiente de discussão de idéias.

PSYTE: Organizar um festival não é tarefa fácil. Em que temperatura está o frio na barriga da equipe? Conte como está sendo essa experiência....

MYSTIC: Realmente não é fácil, mas temos muito espírito de equipe. Somos todos amigos e o clima é sempre divertido, o que ameniza um pouco o frio na barriga. Desde o começo da produção está evidente a vontade de todos de dar o melhor de si, mas não tem como negar que conforme vai chegando o dia da festa, vamos ficando cada vez mais ansiosos!


PSYTE: Como você vê o futuro da cena psytrance no Brasil? E os valores, os ideais da cena, como ficam?

MYSTIC: O futuro da cena é imprevisível. As pessoas que trabalham verdadeiramente pela cena devem continuar no caminho que acreditam estar certo. Ideais, valores..sistemas de crenças são coisas muito pessoais que estão em constante processo de mudança. A verdade é que quando todos trabalham para somar, a música eletronica psicodélica pode ser levada cada vez mais adiante.

PSYTE: Qual a contribuição da Mystic para a cena?

MYSTIC: Não imaginamos o tamanho da nossa contribuição a cena, mas com certeza sempre fazemos o maximo que podemos para levantar a bandeira da psicodelia underground.

PSYTE: O que vocês esperam dessa festa e o que o público pode esperar?

MYSTIC: Sempre tentamos fazer a festa de nossas vidas. E dessa vez nao vai ser diferente. Queremos sempre o melhor. e é isso que esperamos desse aniversário de 5 anos.


PSYTE: E o que vocês, esperam do público?

MYSTIC: Esperamos que todos venham com o coração aberto para compartilhar momentos especiais. Serão 3 dias de festa, entao esperamos muito respeito entre todos, e que se cada um tiver consciencia do que faz poderemos todos celebrar em harmonia.

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